Descobrindo os ídolos

Uma tarde inesquecível

Rio de Janeiro, dia 22/05/2008, 13:00hs, sala de embarque do aeroporto Santos Dumont. Lá estava eu, aguardando meu vôo para Congonhas, que, para minha sorte, iria se atrasar.

Fiquei sentado, de cabeça baixa, ainda tentando entender o que havia acontecido na noite anterior no Maracanã. Abria meu livro para tentar estudar um pouco, mas era impossível. Tudo que eu queria naquele momento era uma resposta, ou uma máquina do tempo que me permitisse voltar algumas horas e avisar para os jogadores o para que os 11 marcassem o Washington nos últimos minutos, pq seria dele o gol que daria ao Flu a maior noite de sua história.

Levantei-me para comprar algo para comer, porque, mesmo chateado, fome eu tenho sempre!

Quando chego no caixa da cafeteria, olho para o lado e vejo, em pé, há menos de 1 metro de mim, nosso grande Capitão. Claro que não é nada impossível, por que a chance de encontrar com o time no aeroporto era enorme. Mas o que mais me deixou intrigado foi que, há 1 hora atrás, eu estava imaginando que, naquele momento, eu gostaria de encontrar os jogadores, a comissão técnica, não para pedir explicações, nem para cobrar nada, mas sim para dizer: "Valeu Galera! Vocês foram guerreiros! Vocês foram bravos! E o sentimento de vocês é o mesmo de milhões de são-paulinos! Bola pra frente e vamos ganhar esse Brasileiro!!!". E foi isso que eu fiz. Apertei a mão do Capitão, visivelmente abatido. Era óbvio que ninguém havia conseguido dormir naquela noite.

Logo após, meus ídolos começaram a entrar, um a um, todos cabisbaixos. O clima era horrível, e são nessas horas que você realmente vê que no São Paulo há comprometimento, há envolvimento sim dos jogadores com essa camisa, com esse grande clube. Eles sentiram, e sentiram muito! Muito mais do que nós, posso garantir.Quando fui falar com eles, disse que essas coisas acontecem e que todos nós saímos muito tristes do Maracanã, mas que a maioria de nós tinha certeza de que eles haviam lutado, e muito! Aquela noite era do Fluminense, como outras noites já foram nossas.

Esse é o futebol, e é isso que nos faz gostar cada vez mais dele. Ouvimos, pelo auto-falante, a "notícia" de que o vôo iria se atrasar. Foi então que vi nosso Capitão sentado sozinho cabisbaixo. Fui novamente falar com ele. Comecei a conversar sobre o jogo e ele foi falando das situações do jogo e do time em 2008. Me disse que acreditava que poderíamos chegar lá, já que o time começou a se ajeitar e a jogar bem de uns jogos para cá. Mas que essas coisas não se explicam. As pessoas querem respostas, mas não há muitas respostas nesse momento.

Me levantei, pedi para tirar uma foto, peguei um autógrafo e disse: "Capitão, você ainda voltará para Tóquio! Eu tenho certeza disso!" Ele agradeceu e eu saí, com a certeza de que essa derrota mexeu muito com todos do elenco, e ela poderá, ao contrário do que muitos imaginam, ter sido o ponto de partida para o Hexa Brasileiro.

Fiquei observando de longe, uma pequena fila torcedores e fãs para conversar com ele e pedir autógrafos. Ele atendeu um por um, tirou fotos com todos, e conversou e deu explicações para cada um que perguntou. Impressionante o carinho e a dedicação dele para com os torcedores. Eu já imaginava que ele fosse assim, mas vendo de perto, fiquei mais impressionado ainda. É um grande profissional e também um grande ser humano. Merece tudo o que já conquistou e muito mais.

O Muricy também estava visivelmente pra baixo, ele sentiu muito a derrota, principalmente porque além de treinador ele é são-paulino de coração. Então, sentiu 2 vezes! Peguei um autógrafo, tirei uma foto e nem perguntei nada. Ele já terá que aguentar as cobranças, quando voltar. Cobranças que são naturais, mas que, em grande parte, são injustas. Para mim, não houve culpados, não houve negligência. O que houve foi um acaso, que acontecem o tempo todo, no campo e na vida.

Resolvi ir me sentar para deixar todos "em paz" (já que nessas horas, "tietagem" deve encher um pouco o saco deles, né? Os caras não dormiram à noite, acabaram de sair de uma derrota inexplicável, e vem o chato aqui e fica pedindo autógrafo, tirando foto, perguntando e falando do jogo... Haja paciência)

Fui falar com o Dr. Marco Aurélio Cunha. Sou muito fã dele, desde que o vi pela primeira vez em um programa de TV. O cara é fora de série. Era mais um, visivelmente abatido e chateado demais por termos sido derrotados daquela maneira. Conversamos um pouco, disse que era seu fã e que admirava muito seu trabalho. Fiquei ainda mais depois do papo. Não dá para descrever o quanto o cara é gente fina. É o tipo do cara que todos gostariam de sentar ao lado em uma mesa de bar e ficar horas e horas conversando. Já sabia que ele era um excelente médico e um baita dirigente. Por isso não me surpreendeu nada descobrir que ele é, também, um grande ser humano. O que faltou na sua estatura, sobrou na simpatia e na humildade. Nota mil!

É isso meus amigos. Assim estava terminando aqueles momentos que serão marcantes na minha vida.

Peguei o mesmo vôo que eles, vim sentado ao lado do Pirulito, que estava morto de cansado e dormiu a viagem toda. Desembarcamos, conversei um pouco mais com o MAC e passei pela imprensa, que aguardava ansiosa, buscando respostas. Mais uma vez eu vi como é difícil ser cobrado o tempo todo. Essa foi uma das lições mais importantes que tirei desse dia. Cobrar menos e reconhecer mais um trabalho feito com seriedade, responsabilidade e comprometimento. E isso, no nosso futebol, é uma raridade, infelizmente. E é por isso que o Mais Querido nos dá tantas alegrias. E é isso que me faz acreditar que esse "tropeço" não foi nada, comparado a todas as coisas boas que ainda virão.

Um grande abraço a todos e me desculpem por mais um longo post, a vontade de dividir esses momentos com vocês me faz "passar do limite".

Bola pra frente rumo ao HEXA BRASILEIRO Nós merecemos e podemos chegar lá! Somos o time TRI CAMPEÃO DO MUNDO! Nunca se esqueçam disso.

Fiquem com Deus,
Nelson .